Análise e Artigo Científico: Efeitos da Temperatura e Taxa de Aquecimento na Decomposição do Carvão de Bambusa tuldoides
Por Luis Fernando De Carvalho
Fonte: Adaptado do estudo experimental realizado na Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Introdução
O bambu, especialmente espécies nativas como Bambusa tuldoides, tem ganhado destaque como recurso sustentável para aplicações agroecológicas e energéticas. Na região do Rio Grande do Sul (RS), sua utilização em sistemas agroflorestais e na recuperação de áreas degradadas é uma estratégia promissora para a geração de renda de agricultores familiares. No entanto, para otimizar seu uso como biocombustível ou biochar (carvão vegetal), é fundamental compreender seu comportamento térmico durante a pirólise. Este trabalho analisou os efeitos da temperatura e da taxa de aquecimento na eficiência e nos parâmetros cinéticos da decomposição do carvão de Bambusa tuldoides, visando subsidiar aplicações técnicas e sustentáveis.
Metodologia
O experimento utilizou carvão de Bambusa tuldoides produzido na Estação Experimental Cascata da Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS). A análise termogravimétrica (TGA) foi conduzida no Centro de Engenharias da UFPel, seguindo a norma ASTM E2550-11 , que mede a perda de massa da amostra em função de transformações físicas ou químicas.
Detalhes metodológicos:
Amostras: 2 g de carvão macerado, com três réplicas por análise.
Equipamento: Termogravímetro Navas Instrument TGA-1000.
Condições:
Faixa de temperatura: Ambiente a 1000°C.
Taxa de aquecimento: 10°C/min.
Fluxo de gás: 1 L/min de nitrogênio (N₂).
Resultados e Discussão
A análise termogravimétrica revelou três estágios críticos de decomposição do carvão (Figura 2 e 3):
Perda de Umidade (100–220°C):
Início da perda de massa devido à evaporação da água residual.
Estágio rápido, sem alterações químicas significativas.
Volatilização de Alcatrão e Extrativos (220–320°C):
- Degradação de compostos voláteis, como alcatrão e resinas.
- Perda de ~15–20% da massa inicial.
- Pico de degradação (300–500°C): Decomposição de hemicelulose e celulose remanescentes.
Estabilização (>500°C): Carbonização completa, com resíduo fixo de ~25% da massa original.
Curva de Perda de Massa em Função do Tempo (Figura 3):
O processo total durou 5h30min, com a fase ativa de pirólise ocorrendo nas primeiras 3 horas.
A taxa de aquecimento constante (10°C/min) permitiu controle preciso da degradação, evitando desvios cinéticos.

Implicações Práticas
Biochar para Agroecologia:
A estabilidade térmica acima de 500°C sugere que o carvão de Bambusa tuldoides é adequado para produção de biochar, que pode ser utilizado em sistemas agroflorestais para:
Recuperação de solos degradados.
Retenção de nutrientes e água.
Fonte: Embrapa Clima Temperado.
Energia Sustentável:
A pirólise controlada permite otimizar a produção de biocombustíveis sólidos, como pellets ou briquetes, para comunidades rurais.
Geração de Renda:
Agricultores familiares podem integrar a produção de carvão sustentável a cadeias de valor locais, alinhando-se a iniciativas como o Corredor Ecológico da Quarta Colônia (RS).
Limitações e Recomendações
Escopo do Estudo: A análise focou em Bambusa tuldoides; recomenda-se comparar outras espécies nativas do RS (ex.: Merostachys skvortzovii).
Amostragem: Apesar do rigor metodológico, o uso de apenas três réplicas pode limitar a generalização dos resultados.
Aplicações Futuras: Estudos sobre a qualidade do biochar em solos e sua interação com microrganismos são necessários.
Conclusão
A decomposição térmica do carvão de Bambusa tuldoides demonstrou eficiência na produção de resíduos estáveis acima de 500°C, com potencial para aplicações agroecológicas e energéticas. A integração desse conhecimento a sistemas agroflorestais no RS pode promover a recuperação ambiental e a economia rural, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Referências
Embrapa Clima Temperado. (s.d.). Bambu: Pesquisa e Inovação. Disponível em: Embrapa.
ASTM E2550-11. (2011). Método de teste padrão para estabilidade térmica por termogravimetria .
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